terça-feira, 30 de outubro de 2007

Filho, não tenho tempo!

Apenas 6% das crianças portuguesas brincam diariamente com os pais. É uma das conclusões de um estudo europeu que pretende avaliar os hábitos das crianças e dos pais. Perante estes números, os especialistas alertam os pais para a necessidade de despender algum tempo, todos os dias, para participar nas brincadeiras.
Fonte TVI
Mas porquê?
Os pais deixaram de saber brincar?
Os filhos apenas querem brincar na consola ou na internet?
A alegria...
O tempo...
A disponibilidade...
O egoísmo...

Não Tenho Tempo
Sabe meu filho,
Até hoje não tive tempo para brincar com você.
Arranjei tempo para tudo,
Menos para ver você crescer.
Nunca joguei dominó, dama, xadrez ou batalha naval com você.
Percebo que você me rodeia,
Mas sabe, sou muito importante e não tenho tempo...
Sou importante para números, convites-sociais,
Uma série de compromissos inadiáveis...
E largar tudo isso para sentar no chão com você...
Não, não tenho tempo !
Um dia você veio com o caderno da escola para o meu lado,
Não liguei, continuei lendo jornal.
Afinal, os problemas internacionais
São mais sérios que os da minha casa.
Nunca vi seu boletim nem sei quem é sua professora,
Não sei nem qual foi sua primeira palavra,
Também, você entende... não tenho tempo...
De que adianta saber as mínimas coisas de você
Se eu tenho outras grandes coisas a saber?
Puxa, como você cresceu!
Você já passou da minha cintura.
Está alto!
Eu não havia reparado isso.
Aliás, não reparo quase nada, minha vida é corrida,
E quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora.
E se uso aqui, perco-me calado diante da TV,
Porque a TV é importante e me informa muito...
Sabe, meu filho...
A última vez que tive tempo para você, foi numa cama,
Quando o fizemos!
Sei que você se queixa,
Que você sente falta de uma palavra,
De uma pergunta minha,
De um corre-corre,
De um chute na sua bola.
Mas eu não tenho tempo...
Sei que você sente falta do abraço e do riso,
Do andar-a-pé até a padaria para comprar guaraná,
Do andar-a-pé até o jornaleiro para comprar "Pato Donald",
Mas sabe, há quanto tempo não ando a pé na rua?
Não tenho tempo...
Mas você entende, sou um homem importante,
Tenho que dar atenção a muita gente,
Dependo delas...
Filho, você não entende de comércio...!
Na realidade, sou um homem sem tempo!
Sei que você fica chateado,
Porque as poucas vezes que falamos é monólogo, só eu falo.
E noventa e nove por cento é bronca:
Quero silêncio, quero sossego!
E você tem a péssima mania de vir correndo sobre a gente,
Você tem mania de querer pular nos braços dos outros...
Filho, não tenho tempo para abraçá-lo,
Não tenho tempo para ficar com papo-furado com criança.
Filho,
O que você entende de computador, comunicação, cibernética,Racionalismo?
Você sabe quem é Marcuse, Mac Luan?
Como é que vou parar para conversar com você?
Sabe filho,
Não tenho tempo, mas o pior de tudo,
O pior de tudo é que...
Se você morresse agora, já, neste instante,
Eu ficaria com um peso na consciência
Porque até hoje
Não arrumei tempo para brincar com você,
E na outra vida, por certo,
Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos , vê-lo!


Neimar de Barros

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Que falta de educação!

Facilitismo no ensino
É o que me parecem as novas decisões da Senhora ministra.
Então e a formação integral dos alunos?
Basta ele ter boas notas. Mesmo que ultrapasse o numero de faltas … é bom aluno.
E a avaliação contínua?
Cavadela … minhoca.
Não teria eu hoje o meu curso nem o Senhor presidente da República.
Quilómetros a pé para ir às aulas. Também eu tinha as minhas escapadelas para um joguito de bilhar.
Não basta ser bom. É preciso ser bom.
Não hipotequemos a carreira profissional e humana dos nossos alunos com medidas destas… e outras. Qualquer dia esta lei tem assento nos nossos deputados. (estava a brincar. Eles trabalham a sério. Não faltam…)

sábado, 27 de outubro de 2007

Celebrar um nascimento indesejado

Hoje “celebram-se” os quarenta anos da introdução da lei do aborto no Reino Unido. Lord David Steel, o “pai” da lei, olha para trás e declara ao “The Guardian” que não era isto que se pretendia, que os abortos são demais. Abortar tornou-se algo demasiado fácil. Pretendia-se lutar contra o aborto clandestino e acabou por se banalizar a vida.
Há certas datas que ninguém gostaria de ter de de celebrar!
http://www.guardian.co.uk/frontpage/story/0,,2197926,00.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Política, desemprego e VALORES...

"O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, reconheceu ontem que o problema do desemprego é o "mais sério" que a economia portuguesa enfrenta. Falando na Comissão de Orçamento e Finanças no âmbito da discussão do Orçamento do Estado para 2008, Teixeira dos Santos garantiu que está a fazer esforços para enfrentar o desemprego.Para o ministro das Finanças, a questão do desemprego tem de ser resolvida pela economia, com base na vitalidade do sector empresarial e na capacidade de investimento, e não por decreto. Apesar do aumento da taxa de desemprego, o ministro referiu que foram criados 60 mil empregos líquidos, entre 2005 e o final do segundo semestre de 2007, um aumento de emprego originado pela aceleração da economia.O titular das Finanças reconheceu, ainda, que o desemprego em Portugal não é "meramente conjuntural", mas antes estrutural, algo que é explicado pelo facto de Portugal estar a viver um processo de reestruturação na economia.Já a bancada do PSD, através de Patinha Antão, referiu que o aumento da carga fiscal decidido pelo Governo em 2005 custou aos portugueses o equivalente à Ponte Vasco da Gama. O vice-presidente da bancada do PSD acusou o Governo de ter pedido "inúmeros esforços aos portugueses, dos quais ainda hoje não se conhecem os resultados". O deputado social-democrata frisou, ainda, que foram pedidos esforços aos reformados e acusou o Governo de estar a levar a cabo uma "política inaceitável em termos sociais" com este grupo da sociedade portuguesa. Já Diogo Feio, do CDS-PP, confrontou o ministro com a diminuição progressiva das garantias dos contribuintes, matéria que levou os populares a anunciarem o seu voto contra no Orçamento do Estado.Na resposta, Teixeira dos Santos reforçou a ideia de que o CDS não tem legitimidade para tecer críticas face à sua participação num Executivo que desequilibrou as contas públicas portuguesas. Num debate morno, o titular das Finanças foi ainda confrontado por parte de Francisco Louçã, líder do BE, com a operação feita em matéria de Estradas de Portugal.Com Lusa"
http://dn.sapo.pt/2007/10/26/nacional/governo_que_desemprego_maior_problem.html

É o desastre da política social baseada apenas em modelos económicos. O desenvolvimento integral do homem português, da sociedade portuguesa, claudica por não assentar em valores primordiais, em autênticos imperativos éticos que estão arredados da nossa maneira de governar. É necessário competência, lucidez, ousadia, criatividade. É necessário assentar as politicas e as economias, sejam elas quais forem, numa antropologia humanista e não meramente no economicismo dos números...
A injustiça, a intolerância, a falta de diálogo de culturas,... de um laicismo exacerbado e fundamentalista, dificilmnte levará ao progresso apregoado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Igreja ainda de cristandade?

A Universidade Católica, na pessoa do seu reitor, denunciou a falta de subsídio estatal, retribuindo com a ameaça de não apoiar os alunos carenciados. Muito bem… ou não!...
Muito terá que se queixar a Igreja da atitude laica do Estado português. Capelães hospitalares, capelães do exército, ATL Centro de Dia… e tantas outras obras de apoio material e espiritual que a igreja se habituou a ir realizando com o apoio do Estado. São obras para o desenvolvimento social integral do homem e desenvolvimento solidário da humanidade. Vai-se dizendo que A Igreja substitui o Estado neste dever!... talvez seja certo em parte. Experimente a Igreja, de forma reivindicativa, entregar nas mãos do Estado todo o trabalho de solidariedade com crianças, jovens, adultos, idosos … entregar-lhes as chaves destas instituições... e veríamos o caos.
Mas a minha reflexão vai noutro sentido. Que andou a fazer a Igreja durante todo este tempo? Onde estão os cristãos deste país, a quem supostamente foram transmitidos, na sua maioria, os valores do Evangelho? Onde estão os cristãos deste país a quem a Igreja, supostamente, em tempo favorável, evangelizou? Por onde andou a missão da Igreja de anunciar e denunciar? Sim, aqueles que hoje gerem os destinos deste país bem como os que os elegeram beberam no leite materno o cristianismo! Será que o leite estava estragado? Ou será que a Igreja se limitou a uma pastoral dos sacramentos, esquecendo a pastoral dos valores, a comunicação de uma mística de habitar cristãmente o mundo? Não vem tarde… nunca vem tarde… não é definitiva a experiência do presente e a esperança é uma atitude de fé e o motor dinamizador da história. Está na altura de a Igreja Anunciar começando por se Denunciar a partir de dentro como tendo sido incapaz de dinamizar os valores antropológicos de Jesus Cristo. Criemos diálogos de progresso com o mundo e sejamos mensageiros da esperança, apontando os valores cristãos como resposta… Acorda Igreja… Lê os sinais dos tempos…

terça-feira, 23 de outubro de 2007

OUVIR!...

Não, não fugi!...

Também não fiz nenhum retiro… ou talvez.
Não foi falta de temas de reflexão nem essa ficou por fazer embora sem ser escrita…
Hoje regresso apenas para dizer que continuo aqui procurando habitar cristãmente este mundo. Nestes dias tenho procurado ouvir. Ouvir e escutar, numa abertura aos outros, aprendendo com eles. O mundo em que vivo quase não tem ouvidos. E os ouvidos que há servem apenas para os pequenos tremoços, ligados a mp3, dos quais apenas se escuta uma batida forte que não deixa ouvir o coração.
Como não ouvimos fechamo-nos em nós mesmos e cultivamos o medo.
Como não ouvimos deixamos de ter paciência, tranquilidade e segurança no mundo que habitamos.
Como não escutamos não nos abrimos à transcendência e não louvamos a beleza.
Por isso parei para escutar.
E vou continuar aqui escutando. Se não partilhar com tanta frequência é porque estou aqui escutando com os olhos, com os ouvidos e com outros sentidos que Deus me deu.