sábado, 29 de dezembro de 2007

AS PESSOAS SENSÍVEIS





As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.




Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)

domingo, 23 de dezembro de 2007

NATAL

Jesus, que era de condição divina, não reivindicou essa sua condição, pelo contrário, tomou a condição de servo, em tudo semelhante aos homens, identificando-se com eles, e rebaixando-se a si mesmo até à morte de cruz; por isso é que Deus o exaltou acima de tudo e de todos (cf Filp 2,6-8 e Ef 1,20-23).
Se Jesus fez isto, à Igreja - a quem ele entregou a continuação da sua obra ou missão ou tarefa - não resta outra hipótese. Tem de o fazer também e baixar à condição dos homens, não reivindicando direitos ou regalias, mas servindo.
Deus fez-se pobre para ajudar o pobre a ser rico, retomando assim a expressão de Paulo: "Nosso Senhor Jesus Cristo, que era rico, fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza" (Cor, 8.9).
A Igreja é um Natal continuado.
??? será??? gostava de ouvir alguém falar disto!!! desafio-vos ...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

VIDA E PAZ

Comunidade Vida e Paz (CVPaz) é uma organização de inspiração cristã, tutelada pelo Cardeal-Patriarca, sem fins lucrativos que se dedica a apoiar as pessoas sem-abrigo com o objectivo último de assistir a sua recuperação humana, tornando-os participantes activos na sociedade.
A CVPAZ é, também, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), com sede em Alvalade. Embora seja de inspiração cristã, a CVPaz congratula-se com o facto de ter o apoio de numerosas entidades e pessoas de diferente fé e diferente fundamentação humanística, que se lhe unem no sentido de prestar serviço à sociedade.
Todas as noites – sem excepção – três equipas de nove pessoas percorrem três voltas distintas na cidade de Lisboa, distribuindo uma ceia (sempre que possível, duas sandes, um bolo, leite e fruta) e roupa a cerca de 450 pessoas sem-abrigo.
Esta actividade diária permite ir conhecendo a situação em que cada pessoa está e assim tentar obter-lhes a ajuda que necessitam (pode ser médica, psicologia, jurídica, etc). O desenvolvimento desta relação permite dar a conhecer e encorajar estas pessoas para um programa de reinserção que lhes forneça as principais ferramentas para se transformarem em cidadãos autónomos e participantes.


in Agência ecclesia

Porque comentamos sempre o negativo, o insólito, o vergonhoso... e nunca comentamos o positivo louvando-o? Hoje no Evangelho: os cegos vêem, os coxos andam ... e a Boa Nova é anunciada aos pobres. A igreja de Jesus Cristo é, nesta notícia, portadora da realização da Boa Nova no já da história. ALELUIA. O alimento para os esfomeados é também o novo nome da paz! E uma das linguagems dos cristãos.

Deve ser efeito da proximidade do natal... hoje não fui maledicente!
Hoje também a comunicação social se rendeu ao positivo...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

PAI NATAL OU MENINO JESUS????

O consumismo do Natal deixa-me sempre uma interrogação: Presentes do menino Jesus ou do Pai Natal?
Fui há dias procurar uma imagem do Natal na internete... O pai natal ocupava toda a busca.
Quem sabe a história de S. Nicolau? e da Coca Cola?
A inversão de valores...
Vem aí o natal e temos lautas ceias e jantares de grupos e empresas. Haverá por aí empresas que convidem os funcionários que despediram durante o ano? Associações culturais que convidem pobres de cultura para a sua mesa? Eu também ainda não tive a coragem de o fazer! Mas é natal e até se fazem concertos da paz, da solidariedade... para não abusar da palavra NATAL! E muitos... de outros quadrantes de pensamento... nem querem ouvir falar do NATAL... mas porque é natal hão-de vir à televisão encher a boca com esta palavra...
E o sapatinho dos pobres, vazio, ainda à espera que o menino Jesus nasça... no próximo ano... descalço.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Tenho uma arma secreta

Este blog foi visitado pelo ministério da defesa...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Tenho uma arma secreta

Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.

Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente.

António Gedeão

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Imagine-se pois...

Imagine-se, pois…Imagine-se um mundo em que a cada um fosse reconhecido o direito de dar, à sua medida, um contributo para a melhoria de vida dos seus coetâneos e que a isso se chamasse participação.Imagine-se um país em que a educação fosse uma responsabilidade primeira e reconhecida das famílias, a quem se reconheceria o direito e a legitimidade de escolherem o modelo educativo mais ajustado aos seus filhos; imagine-se um mundo em que os Estados reconhe-cessem às sociedades mais próximas dos cidadãos (as associações, instituições particulares de solidariedade social, etc.) o legítimo direito de serem veículo de promoção, apoio e acompanhamento das pessoas, não sendo nunca indevidamente substituídas pelo Estado ou sociedades superiores, antes sendo por estes apoiadas e subsidiadas; imagine-se um mundo em que o direito a ter iniciativa não ficasse no mundo de uns poucos que tudo gerem a seu bel-prazer, estabelecendo os preços que mais lhes convêm porque o monopólio assim lhes permite, mas fosse assegurado a todos com igual condição de oportunidade, e que a tudo isto se chamasse subsidiariedade.Imagine-se, ainda, um mundo e um tempo em que todos sentissem como seus os problemas de todos, em que as questões do bem-estar do mundo, do bem-estar das espécies, do bem-estar e direito a viver dos mais frágeis fosse problema de todos e nunca de apenas alguns, e que a isso se chamasse solidariedade…Imagine-se tudo isto… Imagine-se e deseje-se e concretize-se este mundo e estaremos a tornar real o mundo a que deveria aspirar, em primeiro lugar, a Igreja.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

SPE SALVI DE BENTO XVI - IV - a oração

Com alguma “esperança” das pequenas… continuo a ler esta encíclica. A realização da esperança no mundo de hoje, o como(?).
Uma coisa ficou para mim clara: nas 27 vezes que o papa fala de progresso, deixa uma imagem de desconfiança, de desencanto. O progresso parece mesmo causa de falta de esperança no mundo “torna-se evidente a ambiguidade do progresso. Não há dúvida que este oferece novas potencialidades para o bem, mas abre também possibilidades abissais de mal” (!!!).

Então onde se pode fazer a aprendizagem da esperança?

A Oração

Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração.” (…)”O homem foi criado para uma realidade grande ou seja, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dilatado”. Esta oração não é isolamento," continua o papa:” não se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. De facto, só tornando-nos filhos de Deus é que podemos estar com o nosso Pai comum. Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correcto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os homens. Na oração, o homem deve aprender o que verdadeiramente pode pedir a Deus, o que é digno de Deus. Deve aprender que não pode rezar contra o outro. Deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e cómodas que de momento deseja – a pequena esperança equivocada que o leva para longe de Deus. Deve purificar os seus desejos e as suas esperanças. Deve livrar-se das mentiras secretas com que se engana a si próprio: Deus perscruta-as, e o contacto com Deus obriga o homem a reconhecê-las também. ” A oração do homem deve ser também comunitária, continua: “Para que a oração desenvolva esta força purificadora, deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo; mas, por outro, deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina continuamente a rezar de modo justo.” (…) “Assim tornamo-nos capazes da grande esperança e ministros da esperança para os outros: a esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. E é esperança activa, que nos faz lutar para que as coisas não caminhem para o « fim perverso ». É esperança activa precisamente também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma esperança verdadeiramente humana.”

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

SPE SALVI DE BENTO XVI - III - o resumo do papa

"Resumamos",
diz o Pontífice no número 30 da encíclica:
O homem, na sucessão dos dias, tem muitas esperanças – menores ou maiores – distintas nos diversos períodos da sua vida. Às vezes pode parecer que uma destas esperanças o satisfaça totalmente, sem ter necessidade de outras. Na juventude, pode ser a esperança do grande e fagueiro amor; a esperança de uma certa posição na profissão, deste ou daquele sucesso determinante para o resto da vida. Mas quando estas esperanças se realizam, resulta com clareza que na realidade, isso não era a totalidade. Torna-se evidente que o homem necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar.” (…)
Na idade moderna “a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro « reino de Deus ». Esta parecia finalmente a esperança grande e realista de que o homem necessita.” (…)”Mas, com o passar do tempo fica claro que esta esperança escapa sempre para mais longe.” (…)”apesar de ser necessário um contínuo esforço pelo melhoramento do mundo, o mundo melhor de amanhã não pode ser o conteúdo próprio e suficiente da nossa esperança.” (…)
“Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto. O seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais chega; o seu reino está presente onde Ele é amado e onde o seu amor nos alcança. Somente o seu amor nos dá a possibilidade de perseverar com toda a sobriedade dia após dia, sem perder o ardor da esperança, num mundo que, por sua natureza, é imperfeito. E, ao mesmo tempo, o seu amor é para nós a garantia de que existe aquilo que intuímos só vagamente e, contudo, no íntimo esperamos: a vida que é «verdadeiramente » vida.”

É estranho que em toda esta análise filosófica sobre a esperança não se faça referência ao Vaticano II (bem a poderia fazer) ou à lembrança de outros documentos papais (nomeadamente Paulo VI e a Populorum Progressio)!

SPE SALVI DE BENTO XVI - II

"Acima de tudo –diz o Papa– O que significa realmente ‘progresso’?". " torna-se evidente a ambiguidade do progresso. Não há dúvida que este oferece novas potencialidades para o bem, mas abre também possibilidades abissais de mal – possibilidades que antes não existiam."(…)
"Sem dúvida, a razão é o grande dom de Deus ao homem, e a vitória da razão sobre a irracionalidade é também um objectivo da fé cristã. Mas, quando é que a razão domina verdadeiramente? Quando se separou de Deus? Quando ficou cega a Deus? A razão inteira reduz-se à razão do poder e do fazer? Se o progresso, para ser digno deste nome necessita do crescimento moral da humanidade, então a razão do poder e do fazer deve de igual modo urgentemente ser integrada mediante a abertura da razão às forças salvíficas da fé, ao discernimento entre o bem e o mal" (…)

"Digamos isto de uma forma mais simples: o homem tem necessidade de Deus; de contrário, fica privado de esperança. (…)Por isso, a razão necessita da fé para chegar a ser totalmente ela própria: razão e fé precisam uma da outra para realizar a sua verdadeira natureza e missão.”
“O recto estado das coisas humanas, o bem-estar moral do mundo não pode jamais ser garantido simplesmente mediante as estruturas, por mais válidas que estas sejam.”
(…)
“Visto que o homem permanece sempre livre e dado que a sua liberdade é também sempre frágil, não existirá jamais neste mundo o reino do bem definitivamente consolidado. Quem prometesse o mundo melhor que duraria irrevogavelmente para sempre, faria uma promessa falsa; ignora a liberdade humana.”

Assim, continua Bento XVI: “Consequência de tudo isto é que a busca sempre nova e trabalhosa de rectos ordenamentos para as realidades humanas é tarefa de cada geração: nunca é uma tarefa que se possa simplesmente dar por concluída.” (…) “as boas estruturas ajudam, mas por si só não bastam. O homem não poderá jamais ser redimido simplesmente a partir de fora.”

Na Spe Salvi, Bento XVI assinala que “devemos constatar também que o cristianismo moderno, diante dos sucessos da ciência na progressiva estruturação do mundo, tinha-se concentrado em grande parte somente sobre o indivíduo e a sua salvação. Deste modo, restringiu o horizonte da sua esperança e não reconheceu suficientemente sequer a grandeza da sua tarefa – apesar de ser grande o que continuou a fazer na formação do homem e no cuidado dos fracos e dos que sofrem."

O Papa recorda em seguida que “Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor. Isto vale já no âmbito deste mundo. ” (…) e acrescenta: “Neste sentido, é verdade que quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora « até ao fim », « até à plena consumação » (cf. Jo 13,1 e 19,30).”

Neste ponto o Sumo Pontífice interroga-se: “não será que, desta maneira, caímos de novo no individualismo da salvação? Na esperança só para mim, que aliás não é uma esperança verdadeira porque esquece e descuida os outros? Não. A relação com Deus estabelece-se através da comunhão com Jesus – sozinhos e apenas com as nossas possibilidades não o conseguimos. Mas, a relação com Jesus é uma relação com Aquele que Se entregou a Si próprio em resgate por todos nós (cf. 1 Tim 2,6). O facto de estarmos em comunhão com Jesus Cristo envolve-nos no seu ser « para todos », fazendo disso o nosso modo de ser. Ele compromete-nos a ser para os outros, mas só na comunhão com Ele é que se torna possível sermos verdadeiramente para os outros, para a comunidade.”

SPE SALVI DE BENTO XVI

Numa leitura, ainda superficial, da nova encíclica papal “SPE SALVI”sobre a esperança cristã, retenho desde já esta citação do nº 22

É necessária uma autocrítica da idade moderna feita em diálogo com o cristianismo e com a sua concepção da esperança. Neste diálogo, também os cristãos devem aprender de novo, no contexto dos seus conhecimentos e experiências, em que consiste verdadeiramente a sua esperança, o que é que temos para oferecer ao mundo e, ao contrário, o que é que não podemos oferecer. É preciso que, na autocrítica da idade moderna, conflua também uma autocrítica do cristianismo moderno, que deve aprender sempre de novo a compreender-se a si mesmo a partir das próprias raízes. A este respeito, pode-se aqui mencionar somente alguns indícios.”

Resta-nos saber se, como habitualmente, a dicotomia entre o saber e o agir não é o verdadeiro escolho….