quinta-feira, 19 de julho de 2007

OBRIGADO MEU DEUS ...

Um cruzamento com stop. 11 horas da noite. Do lado esquerdo uma recta de 100 metros com uma visibilidade excelente. Paro, como habitualmente, olho a esquerda e a direita… nada! Avanço e … vindo do nada… uma moto passa-me pelo lado esquerdo como um relâmpago. Tremendo, assustador… gelou-se-me o sangue nas veias. Não deu para perceber a cor do veículo, ou a figura do ocupante ou ocupantes. Saiu do nada e entrou no nada. A velocidade era impressionante. Valeu a perícia de quem conduzia… o instinto ou não sei o quê. Não parei, não disse nada e 100 metros mais à frente dei comigo a dizer… “obrigado meu Deus”… impensado… inexplicável como decorreram aqueles acontecimentos. Se aquela moto me batesse por trás ou de lado não consigo imaginar sequer o que aconteceria. E eu era culpado.

“Obrigado meu Deus!”

Sim, esse Deus eu creio, e estou-me pouco importando se existe ou porque existe. Deste eu não sou ateu. Relaciono-me com ele de forma afectiva. Não negoceio com ele nem tenho necessidade de me esconder dele. E continuo a viver como se ele não existisse. Nessa noite fui mais uma vez feliz. E se alguém ler este texto (o que duvido) e me chamar pouco profundo, pouco científico, pouco teólogo… a ele eu responderei com esta fé de carvoeiro de quem se sente amado. Quanto ao resto, a outras formas de procurar este Deus esquivo (ou não) que se procura nas grandes coisas, sendo pequeno… ou se procura nas pequenas sendo grande … eu encontrei-o mais uma vez, mesmo quando o procurei negar.
Esta é a história de um alpinista que vai circulando na internet sob a forma de apresentação.
Ele resolveu, depois de muitos anos de preparação, escalar o Aconcágua.
Começou a subir e o dia começou a escurecer e a ficar cada vez mais tarde.
Porém ele não se tinha preparado para acampar e resolveu seguir a escalada, decidido a atingir o topo.
Escureceu... e a noite caiu como um breu nas alturas da montanha.Era impossível conseguir ver um palmo à frente do nariz... não se via absolutamente nada.
Tudo era escuridão, zero de visibilidade, não havia Lua e as estrelas estavam cobertas pelas nuvens.
Subindo por uma "parede" e apenas a 100 metros do topo, ele escorregou e caiu...
Caía a uma velocidade vertiginosa, só conseguia ver as manchas que passavam cada vez mais rápidas na escuridão.
Ao cair sentia apenas uma terrível sensação de estar a ser sugado pela força da gravidade e nesses angustiantes momentos, passaram pela sua cabeça todos os momentos felizes e tristes que ele já tinha vivido.
De repente, sentiu um puxão forte que quase o partiu pela metade.
Como todo alpinista experimentado, tinha cravado estacas de segurança com grampos a uma corda comprida que tinha fixado na sua cintura.
Nesses momentos de silêncio, suspenso pelos ares na completa escuridão, o desespero fá-lo gritar:
- Oh, meu Deus! Ajuda-me! Por Favor!
Uma voz grave e profunda respondeu:
- O que queres de Mim, meu filho?
- Salva-me, meu Deus, por favor!
- Realmente acreditas que Eu te possa salvar?
- Eu tenho certeza, meu Deus.
- Então corta a corda que mantém pendurado...
Houve um momento de silêncio e reflexão.
O alpinista agarrou-se mais ainda a corda e pensou que se largasse a corda morreria...
A equipa de salvamento no dia seguinte encontrou um alpinista congelado, morto, agarrado com as duas mãos a uma corda ...
...
a não mais de dois metros do chão.