sexta-feira, 23 de novembro de 2007

E DEPOIS DA GLOBALIZAÇÃO A DESGLOBALIZAÇÃO?

Depois da abertura e integração dos mercados surgirá a "desglobalização"
E depois da globalização?
A globalização parece um fenómeno inevitável e imparável. Mas um economista e um historiador estudaram processos semelhantes nos últimos mil anos, incluindo os Descobrimentos portugueses, e chegaram à conclusão que, a seguir a uma globalização, vem inevitavelmente uma "desglobalização".…Será que, agora que a economia mundial está outra vez a ficar rapidamente mais globalizada, já estamos mais a salvo da ocorrência de conflitos? E que a hipótese de um recuo na interdependência entre as várias economias se tornou mais improvável? Há quem responda que sim, defendendo que a actual globalização é muito mais forte do que as anteriores e que os avanços tecnológicos aumentaram os níveis de comunicação de forma nunca vista. Mas Ronald Findlay e Kevin O"Rourke, que, no seu livro "Power and Plenty", estudaram os avanços e recuos no processo de globalização ocorridos durante os últimos mil anos, chegaram à conclusão que não há nada na situação actual que a torne particularmente diferente e inovadora. E que, assim sendo, o mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, se venha a assistir a um agravamento das tensões políticas e económicas internacionais, com um novo recuo no processo de globalização, ou como classificam os autores, uma "desglobalização". …"Há 100 anos, o mundo estava tão ou mais globalizado que hoje", exemplifica Kevin O"Rourke, historiador. "O trabalho era mais móvel e o capital tão móvel, com a excepção dos grandes fluxos de investimento especulativo que temos actualmente", explica. E quanto aos avanços nas comunicações, também não há nada de muito impressionante. "Tem havido progressos muito importantes, sem dúvida, mas o aparecimento do telégrafo representou uma mudança ainda mais radical na capacidade para se transmitir informação entre continentes", defende. …"Uma coisa que a globalização faz é aumentar a interdependência, mas isso conduz também a um sentimento de maior insegurança e vulnerabilidade", explica o economista Ronald Findlay. Um dos exemplos deste fenómeno ocorreu há cem anos: "A Inglaterra, ficou muito dependente das importações de matérias-primas. E, por isso, começou a ver o poder naval alemão como uma ameaça, reforçando a sua defesa. A Alemanha respondeu na mesma moeda e de repente estava criada uma corrida ao armamento naval". Actualmente, o petróleo é o produto com um potencial maior para criar este tipo de problemas. "Veja-se a forma como a China está a tentar entrar em África para assegurar matérias-primas e qual será a reacção do Ocidente", afirma Kevin O"Rourke. …"Com a globalização, há sempre quem ganha e quem perca. E se quem perder tiver poder suficiente, pode mobilizar os políticos, colocá-los contra a globalização e reverter o processo", explica O"Rourke. …Por exemplo, Gengis Khan criou uma economia muito global em meados do século XIII, mas quando o império mongol caiu, a Ásia central tornou-se ingovernável e o comércio ficou muito difícil. Na situação actual, é difícil prever quais os factores que se revelarão mais ameaçadores para a presente globalização. "Não conseguimos dizer qual é que vai ser dominante, mas vão ser ambos importantes", diz Ronald Findlay. Uma coisa é certa, a China, seja pela vertente económica, seja pela geopolítica, irá sempre desempenhar um papel importante. "A China, ao industrializar-se, vai precisar cada vez mais de garantir o fornecimento de matérias-primas. E para isso, vai precisar de manter os excedentes comerciais ao nível dos produtos manufacturados", (…) é interessante pensar no que poderá acontecer, no espaço de décadas, quando o Ocidente, por causa da perda de empregos, decidir impedir a entrada de produtos chineses. Um cenário que, tendo em conta as posições contra o comércio chinês assumidas já por muitos políticos, tanto no Congresso norte-americano, como em governos europeus, está longe de ser irrealista. É por isso que Findlay e O"Rourke mais uma vez concluem: "Isto pode voltar tudo atrás, como era em 1940..."

23.11.2007 - 09h35 Sérgio Aníbal

Retirado de "O público"
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1311629

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